domingo, 31 de outubro de 2010

É Dilma... e aí?

Está aí. Dilma Roussef foi eleita presidente do Brasil com mais de 56% dos votos válidos. Está aí. O Brasil tem, de agora em diante, uma mulher no comando da nau. E aí?
Vi muita gente comentando,e a propaganda também: a primeira mulher presidente do Brasil. Mulher também é gente, e pode pensar sobre os negócios do país, pode ser tão competente quanto qualquer homem nestes assuntos, pode vir a ter, assim como os homens, ideias brilhantes sobre a melhoria da vida coletiva, e também, assim como os marmanjos, pode roubar e ser insensível aos problemas que nos assolam. Mulher também é gente.
Observei também que muita gente preferiu ir para outro lugar mais divertido do que uma cabine eleitoral, mesmo que fosse por alguns segundos. 21.50% de abstenções, o que dá mais de 29 milhões de eleitores, não estavam dispostos a votar. Isso quer dizer alguma coisa, e não é preciso repetir o bordão do senhor Holmes: "elementar, meu caro Watson!" Mesmo soluçando (porque o ulular da DEMOcracia sempre é mais efusivo) estas milhões de pessoas têm algo a imprimir no debate político, e pelos motivos os mais variados não estavam afim de conversa com a justiça eleitoral. Paga-se R$ 3,50 e tudo está azul novamente. Se eu fosse um teórico político não perdia tempo, e iria o mais rápido possível a qualquer jornaleco impresso ou televisivo explicar, com alguma artimanha acadêmica, o por que que tanta gente não quis exercer seu DEVER garantido. Mas isso não vai faltar.
A pergunta persiste: e aí? Creio que quando o vislumbre acabar, quando todo mundo encher o saco com esta estória de primeira mulher, primeira isso, primeira aquilo, quando Dilma subir a rampa do Planalto e receber das mãos calejadas de Lula, agora pelas regalias do poder, afaixa presidencial, quando os primeiros impostos do ano que vem chegarem, as primeiras mazelas do novo ano aparecerem, os truques, as falcatruas, quando tudo isso chegar, talvez haja um diálogo mais eloquente, mais racional, eu diria.

Toda sorte do mundo a nós, brasileiros!

sábado, 16 de outubro de 2010

Visões e pensamentos em uma viagem de ônibus...

Há uma enorme distância entre teoria e prática. A primeira, prioritariamente, deveria embasar a segunda, ser o seu arcabouço. Constatei, mas sem nenhum espanto adicional, que as duas percepções, que supostamente deveriam completar-se, nada mais são do que abismos distantes.
Na volta para casa, depois de um dia de trabalho, sempre trafego pelo Barro-Macaxeira via Várzea, e esta semana um fato chamou minha atenção. Há diversos vendedores ambulantes que se revezam nestes ônibus na difícil tarefa de convencer, através da amostragem de seus produtos, os passageiros a comprarem alguma coisa. Pessoas e situações diferentes, mas que possuem um traço comum: a luta diária pela sobrevivência. sou muito bom em memorizar fisionomias, e neste dia atípico que estou a revelar o personagem era já bastante conhecido de minha lembrança. Um homem, com os seus 38 anos, portador de necessidades especiais, vendia balas e canetas num dia que parecia ser comum. Mas não era, pelo menos para ele. O vi percorrer desde a catraca até o fundo do coletivo umas duas vezes, e de repente, este homem, que tinha naquele dia um semblante mais carregado e fatigado do que o costume, sentou-se na fila oposta dos assentos, de forma a ficar paralelo comigo. Olhei para a direita por falta de opções convidativas do outro lado da janela em que eu estava a observar, e pude constatar a expressão de dor, de desespero, a angústia que aquele homem estava sentindo naquele exato momento. Sentado, jogou suas mercadorias no piso do ônibus com aspereza, colocou as duas mãos entre o rosto e balbuciou algumas palavras que não pude compreender; detive-me a visualizar a cena, e ficou impossível não inferir nada daquela situação. Imaginei o motivo de suas expressões, o que se passava na cabeça daquele pobre homem, que como tantos homens nesta republiqueta estão fadados ao fracasso e a penúria. Será que possuía filhos, esposa, mãe, alguém que necessitava do seu esforço diário, para sobreviver? Será que este homem estava pensando na morte, não como o alívio de uma vida no porvir, mas como um descanso, a única chance que ele possuiria de estar em paz? Será que o ódio havia tomado conta de seus pensamentos, pelo fato de que ninguém havia se interessado naquela tarde pelos seus bombons e canetas? A curiosidade às vezes é benéfica para quem a tem, porque refletindo sobre os motivos das queixas do homem, acabei refletindo sobre aquilo que eu um dia acreditei sobre teorias sociais e transformação da sociedade por meio de mecanismos abrangentes, que realmente solucionassem um dos maiores desejos de qualquer ser humano: viver dignamente.
Onde os intelectuais se encaixariam neste contexto? O que os grandes mestres e doutores da distante Academia poderiam dizer a este cidadão brasileiro, aviltado em suas prerrogativas básicas? Será que ele ouviria algum sermão marxista entediante, ou explanações abalisadas, com gráficos e números, dos economistas e educadores falando sobre o por que ele precisa sofrer tanto para vender Mentos e canetinhas, para comer? Ou algum filósofo menos nietzschiano ou schopenhauriano traria a bela retórica grega para convencê-lo de que tudo tem uma explicação lógica, mas ao mesmo tempo tudo é condicionado? Eu duvido muito que algum destes obtivesse algum sucesso, nem ao menos a atenção deste infeliz rapaz. Por quê? TEORIAS NÃO ALIMENTAM NINGUÉM! Cheguei a conclusão, ali, que meia dúzia de teorizações sociais, cotidianas, não bastam para alentar uma alma que range os dentes de dor ao ver seus filhos na miséria; é preciso ação, não de organismos ou indivíduos isolados, mas sim da coletividade. e para isso não é preciso qualquer discurso, precisa-se de efetividade das reflexões, e isso está muito longe de ser uma realidade.
Espero mesmo que aquele homem tenha conseguido resistir...

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Universidade... serve pra que mesmo?

Gente apinhada, como em qualquer outra aglomeração urbana em qualquer parte do mundo "civilizado", eis, a universidade. Uma pequena embaixada daquilo que é diferente, esdrúxulo, incomum, peuso-intelectualizado, banal,tediante, e onde os seres que a ela pedem asilo podem se sentir mais a vontade, achando que a vida acadêmica é bacana ou que a verdade, em todos os seus meandros sucursais, pode enfim ser encontrada... mas, a universidade serve pra que mesmo?

Se eu conseguir sobreviver mais alguns dias nisso... volto pra contar...

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Façamos uma votação... sobre as eleições

É isso mesmo. Mais uma vez. O povo novamente vai às urnas exercer sua democracia em processo eleitoral limpo, ordeiro e plenamente consciente., com candidatos impolutos, imcorruptíveis, cheirando a jasmim... mas... de que povo , de que eleições e de que democracia estou falando mesmo?
Ah, lembrei... estou falando do Brasil. Era para tudo isso ser um fato, mas o que a realidade demonstra é totalmente o oposto. Um sufrágio , num regime de plena democracia, permite à maioria decidir sobre a composição política que regerá as suas vidas durante um período de tempo, que no caso do Brasil, são quatro anos. O que eu vejo nos dias 3 de outubro eleitorais é um monte de gente apinhando filas enormes, com títulos eleitorais na mão e promessas na cabeça, com cara de quem comeu e não gostou. O que eu vejo é gente cumprindo OBRIGAÇÃO, num país onde esta palavra é sinônimo de "liberdade" e "respeito" às vontades individuais, mesmo que a maioria não queira estar ali. Isto é democracia?Uma praia, um churrasco com bastante cerveja ou um encontro romântico seriam bem mais vantajosos, mas é preciso estar lá, a contragosto, subindo ladeiras, escadarias, atravessando rios caudalosos, matas fechadas,canaviais, enfrentando trânsitos caóticos, para simplesmente apertar o botão verde com qualquer combinação numérico-partidária que acharem no oceano de papéis repletos de sorrisos amarelos de homens e mulheres desconhecidos, que enojam as ruas e tiram o sono dos garis.
Toda uma rotina sabática é modificada para que o pleito dominical seja realizado; quem comete crime é liberado... precisa votar... matou a mãe, não é pego em flagrante, não fica preso... vai votar. Menores de 16 anos,vão votar. Atropelam, atiram, matam nas esquinas os cidadãos de bem, e podem votar. Políticos processados por falcatruas e corrupção em seus mandatos saem às ruas, acenam, abraçam nas caminhadas, vomitam por conta do que veem, cheiram e sentem, voltam a abraçar, voltam a vomitar; dormem cedo no sábado, acordam no domingo, tomam café, leite, sucos variados, comem pão e geléia importada, frutas da estação; maqueiam-se, saem em seus carros com vidros fumê, e vão votar. Toda uma linearidade cotidiana muda quando se vai às urnas. E a realidade, muda? O poder que o voto poderia, deveria ter, é percebido? O eleitor está certo daquilo que faz em frente a uma urna? Quem acha que a eleição, neste país, é um exercício arbitrário,sem sentido,cheio de meandros os mais escusos; compra, venda, velhos caciques, tiros no escuro, memória fraca, faixas no peito, sacanagem em Brasília, a vida ficando mais difícil e, de novo, novas eleções arbitrárias e aquela sensação do "já vi esse filme antes?" levante a mão...

...Se a maioria concordou, me enganei... vivemos mesmo numa democracia...

A análise de um tal movimento grevista

Trabalho no Laboratório Farmacêutico do estado de Pernambuco - LAFEPE. Algumas pessoas podem raciocinar: "hum, deve ganhar às pampas... e trabalhar pouco, óbvio... serviço público?". Mesmo sendo incoerente em alguns casos, não recrimino os que assim se detêm a pensar. O grande Estado e seus estabelecimentos sempre foram estigmatizado pela inoperância , pela preguiça e omissão dos que neles encostam o corpo, mas no meu caso a coisa é um pouco distinta.
Há momentos em que a dignidade e o instinto de sobrevivência falam mais alto do que qualquer paradigma ou teoria vigente. O trabalho pressupõe que, ao labutar diariamente em prol de um objetivo produtivo, haja a certeza de que, num dado momento, todo este suor seja enxugado, com dinheiro. No meu caso, repito, a coisa parece ir de encontro às marcas feitas pelas próprias unhas do serviço público; salários abusivamente ridículos e, com isso, tudo aquilo que acarreta este déficit são notados onde trabalho. Que ninguém se engane: há servidores públicos ganhando migalhas, literalmente. Como disse, há momentos em que não dá mais para adiar sonhos e alimentar expectativas, e este momento chegou na última semana de setembro, com a paralisação das atividades por tempo indeterminado. O primeiro dia foi significativo, pois era possível perceber, nos rostos de cada um daqueles homens e mulheres, o sentimento de frustração e pesar por não serem reconhecidos como pretadores de um serviço essencial à população mais carente do estado. Eu, comoe studante incipiente em História, fiquei ali, um pouco mais afastado, mas era inevitável não sentir a vibração que instiga à luta, ao combate mental contra os desmandos de uma administração ineficiente e corrupta. Alguns nem sabiam o por que daquilo tudo, não tinham a consciência política, ou mesmo nunca tinham ouvido falar de qualquer teoria de esquerda ou revolucionária, mas, num sol de rachar, ouviam atentamente cada palavra dos seus representantes sobre as negociações com a diretoria da instituição. Percebi que de nada adianta retórica ou polidez intelectual se os braços continuam abertos, se os sonhos continuam sendo adiados, se a sorte não muda e os velhos propósitos escusos dos donos do jogo continuam em voga, mesmo sendo tão desleais. A paralisação ocorre ainda, as consequências pelos braços cruzados recaem como bombas nas costas de quem ousou ir de encontro ao governo, mas mesmo assim há resistência. Lembra o final de "Os Sertões." Não sou marxista, nem esquerdista, nem vermelho, ou outro adjetivo que o valha, até porque Marx nem sequer existia quando o primeiro homem foi oprimido, pasmem, por outro homem... A este primeiro infeliz, minha homenagem.
Um historiador, realmente, deve registrar aquilo que vive com os sentimentos que lhe impulsionam à vida...

sábado, 28 de agosto de 2010

Uma abordagem sobre o Recife...

Moro em Paulista, cidadezinha próxima ao Recife. Quase não tenho nada a dizer sobre ela; lugarejo-dormitório onde as únicas coisas que acontecem passam despercebidas até por aqueles mais atentos moradores. Nada tenho a dizer porque nada vivi ali. Recife, por outro lado, possui em seu espaço a grande parte das minha vivências urbanas, assim como tem as experiências de milhares de outros transeuntes.
Esta cidade tem magia. É difícil não se importar com sua imponência, principalmente no centro, onde a maioria das coisas acontecem numa velocidade absurda; veículos entupindo as artérias viárias, gente entupindo os micro-vasos circulatórios destas mesmas ruas, e mais gente, e mais gente. A Mauristaad tornou-se monstruosa, nem parece aquele recanto holandês tão reverenciado por alguns. Como toda grande cidade brasileira, traz o reflexo desta celeridade, tanto urbanística quanto social: lixo em demasia, gente desempregada, sem especialização, sendo estudada pela academia em suas salas intelectualizadas, prédios horrendos, substituindo a passos bem céleres antigos casarões de antigos tempos, comércio ambulante a encher a vista, e gente, gente e gente. Às vezes assusta tudo isso. Ser assim tão notória traz uma agitação que as vezes cansa, e o que sinto é que jamais esta cidade será ideal, e sim produzida para ser, mesmo, um logradouro apinhado de gente meio perdida na vida. O trabalho impede a contemplação deste organismo vivo, que dá aquilo que recebe, seja pelos maus tratos públicos, seja pela beleza que o povo exala quando se mostra, junto com a cidade,ao mundo, em Fevereiro ou Março.
Recife é tudo isso, e não parece ser muita coisa. Mas eu gosto desta cidade danada! Vejo sempre a grande dama, galante, com suas românticas ruas, sempre convidando os mais sensíveis a um passeio relaxante, e muitas vezes também realista. Sim, eu gosto do Recife.

sábado, 21 de agosto de 2010

Visualização Geral de um momento pré-acadêmico - janeiro a julho de 2010

O ano começou de maneira tímida para mim. Festas familiares e toda a comemoração digna de uma passagem de ano foram mais do que simples praxe, foram mesmo monotonia. Era a repetição de mais um início, mais uma vez tínhamos que nos deparar com o futuro um tanto pré-determinado: trabalho, convivências habituais, e um certo tédio. O país vive seu curso, e as mesmas tragédias, as mesmas frustrações populares, as mesmas análises políticas estão nos meios de comunicação, sempre os mesmos veículos preponderantes usados pela maioria para informar-se sobre o que acontece no mundo fora de suas vidas pessoais. Esta particularidade que tanto influencia o todo... gosto de perceber o privado, pensar nestas células que compõem o organismo e o define. Aproveitei para ter estas impressões andando bastante pelo centro do Recife neste semestre pré-universidade. Os destinos eram pouco variados; iniciando as andanças pela praça do Derby, ia sempre ao Cinema da Fundação, um dos meus cinemas preferidos, tanto pela boa qualidade das películas quanto pela sua privacidade e organização. Parece que as pessoas em Recife não curtem muito esta ordenação, porque o cinema quase sempre tinha um público bem abaixo da média geral das outras grandes salas da cidade.
Quando não estava ali, assistindo Wood Allen em seu "Tudo pode dar certo", ou a excelente animação "Mary e Max", saía a andar sem um paradeiro. A Rua Henrique Dias presenciou quase diariamente estes All Stars pretos, com passos sem muita agonia de chegar a algum lugar, circularem por seus ladrilhos; a Conde da Boa Vista tinha naqueles momentos uma celeridade fantástica, fruto do imediatismo frenético exigido pelo cotidiano hoje. Gente correndo por todos os lados, feições apáticas, carrancudas, simpáticas, miseráveis, dependia muito do presente onde aqueles corpos estavam situados. Ser um observador, mesmo se sentir alheio àquilo, dava a mim uma sensação que se parece muito com a de um historiador mais tradicional, ao meu ver; aquele ente que capta os momentos históricos do todo, sem se sentir objeto daquele cenário mas dependente em completude dele. Parecia mesmo que eu era o grande inquisidor, o grande juiz do caótico movimentar dos recifenses ali, imprimindo minhas análises sentado em alguma lanchonete (principalmente no Gong, na Boa Vista mesmo, onde se vende uns pastéis bem baratos e convidativos). Pude perceber que a urgência imposta pelo sistema de coisas trazia um certo ar de suplício aos transeuntes em sua grande maioria; quem não partilhava daquela ânsia ou estava em condição mendicante nas calçadas e ruas marginais da avenida, ou então estavam como eu, também ansioso, também inserido, mas ciente de que é preciso dedicar, sempre, algum momento para contemplar, vislumbrar o agora, e avaliar de maneira crítica o que acontece. Transportes públicos, saneamento, políticas de entreterimento, situação econômica da maioria, estes pontos eram os mais notificados por minha lenta capacidade cognitiva; apreender todo este processo era o meu passatempo ppredileto, e creio que saía sempre com alguma coisa produtiva.
No mais, espero relatar estas vivências ao longo do ano.